Por Marcos Barbosa
A igreja evangélica atual tem se
enamorado com a alta tecnologia deste século e como conseqüência perdeu sua
identidade. Sua eficácia se tornou uma piedade fria. Hoje, os templos são
suntuosos e viraram verdadeiros shoppings. É a igreja-shopping-tecnológica. Nela
há restaurantes, estacionamento com manobristas, sauna, pista de skate, sala de
jogos, quadra poliesportiva e até academia. Sem falar dos vitrais, granitos,
tapetes persas, poltronas reclináveis, e telões de plasma espalhados em pontos
estratégicos na catedral climatizada e em suas dependências agregadas. Dessa
forma, o crente que virou crente-cliente pode assistir o culto-show não somente
dentro do templo, mas no restaurante, no estacionamento, na quadra
poliesportiva, na sauna ou praticando academia. O pastor que virou
executivo-pastor fecha negócios com farmácias, oficinas mecânicas, colégios e
lojas de grife para que o crente-cliente tenha descontão em suas compras e
utilização de serviços.
Nos domingos a
igreja-shopping-tecnológica assemelha-se a um aeroporto internacional em alta
estação. É um lugar de grande concentração. As pessoas não se olham nos olhos e
o ruge-ruge de “ovelhas” batendo-se umas nas outras é assustador. Ninguém se
conhece e a saudação padronizada “A paz do Senhor” tornou-se plástica. Na
igreja-shopping-tecnológica conduzir a Bíblia na mão é ser ultrapassado. O
tablet é usado pelo executivo-pastor e pelos crentes-clientes. Aliás, o
executivo-pastor sempre entra na igreja com a pasta de executivo numa mão e na
outra o tablet. Na escola dominical é indispensável o Notebook, o Data-show e o
Smart-board.
A ceia do Senhor na igreja-shopping-tecnológica
não é mais servida coletivamente, é self service. Há a “sala-ceia” onde cada
fiel a qualquer momento utiliza-se do kit-ceia com textura judaizante: pão sem
fermento, vinho e ervas amargas. O recolhimento dos dízimos e ofertas ocorre
via cartão de crédito. A água do tanque batismal da igreja-shopping-tecnológica
provém do rio Jordão. No batismo, o executivo-pastor mergulha o
fiel-crente-cliente, três vezes na água do tanque batismal ao som de um shofar.
A ambição religiosa na igreja-shopping-tecnológica chega ao clímax: Deus opera
movido a mamon e o céu é sujeito ao comando da terra. Ou seja, a terra comanda
o céu, pois há “poder” nas palavras do executivo-pastor. Após a ceia há gente
vendendo sabonete “ungido”, sal “ungido”, óleo “consagrado”, tapete “poderoso”,
água “benta”, perfume que exala o “cheiro de Cristo”, hidratante “santo”, e até
pedaços da toalha com a qual o executivo-pastor cheio da “unção” se enxugou.
Através de sermões sempre em tom
positivo, a voz aveludada do executivo-pastor consegue muitas adesões. Ninguém
questiona o que ele diz. O rebanho-cliente deve se encaixar ao que o
líder-executivo fala, caso contrário, é tido como rebelde. Se o líder disser
que preto é branco todos devem concordar. Se o líder “decretar” todos devem se
curvar. Durante o culto todos devem repetir o que o líder disser o que é para
repetir, e haja papagueado! A pastoexecutivolatria entre os crentes-clientes é
nauseante. O anelão de “doutor” no dedo do executivo-pastor fala muito alto ao
rebanhão. No intuito de impressionar as pessoas, o executivo-pastor chama o
prédio de sua igreja de santuário e os cantores de levitas. Ora, o prédio não é
morada de Deus, portanto, não é santuário. O Senhor não mora em prédios, mas em
pessoas convertidas. Os convertidos é que são santuários. Santuário não é o
telhado, nem as colunas, nem as paredes, nem o chão, nem o púlpito, mas todos
quantos foram regenerados pelo Poder de Deus. Vale salientar que o termo
“levita” não é correto, pois o ministério sacerdotal que inclui os levitas se
encerrou no Antigo Testamento. Todo ministério sacerdotal foi substituído
integralmente por Cristo. Em Efésios 4:11 onde está listado os dons não aparece
o dom de “levita” e nem faz qualquer menção a ministérios sacerdotais.
O seminário da
igreja-shopping-tecnológica é secularizado. Homens como Freud, Carl Jung,
Alfred Adler, Piaget, Peter Drucker, José Saramago, Nelson Mandela, Madre
Tereza de Calcutá, Martin Luther King, Desmond Tutu, Dalai Lama, Mahatma
Gandhi, Roberto Justus, Augusto Cury e Lair Ribeiro tomaram o espaço da Bíblia.
Tudo é calcado na subjetividade e não em verdades históricas. Como a
igreja-shopping-tecnológica quer lotação, o seu seminário ensina técnicas de
marketing para igreja e estratégias de manipulação de pessoas.
Oremos pelo resgate da essência do
cristianismo! Voltar às raízes não é retrocesso, é não perder a verdadeira
missão.