Abençoamado Bispo
Edir Macedo
Paz
Pasmo, tão
assombrado quanto a plateia que, aparvalhada o ouvia conclama-la para uma
pretensa “MARCHA CONTRA JESUS”, quedei-me ante seu despudor espiritual, quando
passava uma descompostura no Príncipe da Paz, nada mais; nada menos, no Filho
amado em quem Deus declara ter comprazimento; no autor e consumador da fé, que
não parece ser da sua, mas da fé de todos que, perplexos, o ouviam.
Posso admitir
indícios de uma ignorância escriturística naquele seu inusitado libelo?
Ou seria um
“delirium tremens” provocado pela abstinência àquela cerveja que o respeitável
bispo diz gostar de beber? Esta abstinência provoca alterações súbitas na mente
e no sistema nervoso – poderia ser isto? O senhor está se tratando?
Sem qualquer
pretensão de exibir-me como profundo conhecedor da Bíblia Sagrada, vou tentar
persuadi-lo do quão deplorável foi o seu parecer quanto ao milagre realizado
por Aquele que, também pelo senhor,
morreu lá na cruz.
Quem sabe, respondo
às perguntas zombeteiras que fez àquela sua plateia que, atônita e aturdida, o
ouviu injuriar a conduta do nosso único e suficiente Salvador no episódio do
Seu milagre, o primeiro narrado no Evangelho de João?
Meu caro bispo, o
último Evangelho escrito, segundo a tradição da Igreja Primitiva, foi o de João, em torno de 90 d.C. e difere dos
três anteriores quanto à intenção dos evangelistas ao escreverem sobre Jesus:
Enquanto vemos em
Marcos, Mateus e Lucas uma atenção maior daqueles evangelistas em proclamar a
autoridade e a onipotência de Jesus, João buscava convencer a sua comunidade de
que Jesus
era o Messias aguardado como enviado do Altíssimo.
O objetivo de João,
amado bispo, ao redigir o seu Evangelho está registrado nos dois únicos
versículos do capítulo 20:
Jo 20:30 – “Na
verdade, fez Jesus diante dos discípulos muito outros sinais que não estão
escritos neste livro.”; 20:31 – “ Estes, porém, foram registrados para
que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
crendo, tenhais vida em seu nome.”
João explica,
ainda, em seu Evangelho, o principal motivo da incredulidade dos judeus, no
relato contido em Jo 12: 37, 38, 42, 43 – 37: “... E, embora tivesse feito
tantos sinais na sua presença, não creram nele, 38: “para se cumprir a palavra
do profeta Isaias que diz: 42: “...mas, por causa dos fariseus, não o
confessavam, para não serem expulso da sinagoga” 43: “porque amaram
mais a glória dos homem do que a glória de Deus.
O amado irmão
poderá ver, portanto, que João intentava mostrar aos judeus, através dos
“sinais miraculosos” de Jesus, que o Messias já se encontrava entre eles e
narrou em seu Evangelho aquele que seria o primeiro
sinal de que Jesus operaria
muitos milagres, por ser o enviado de Deus: “A transformação de água em vinho”.
Destarte, podemos observar que, realmente, esse sinal miraculoso foi o primeiro
descrito pelo evangelista (Jo 2:1-11) em seu livro. Assim foi narrado: Jo 2:11
“Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galileia; manifestou
a sua glória, e os seus discípulos creram nele.”
Considerações:
À luz da
cronologia, face ao exposto, lembro ao senhor que o primeiro milagre de Jesus
foi narrado por Marcos (Mc 1:21-28), sob
o título: “A cura de um endemoninhado em Cafarnaum”. Logo em seguida, na casa
de Pedro e André, Jesus iria curar a sogra de Pedro.
Segundo registros o
Evangelho de Marcos é o mais antigo; dizem-no escrito em época anterior a 62
d.C.
Mateus narra o
primeiro milagre de Jesus como sendo a cura de um leproso ocorrida logo após o
sermão do monte, fato narrado em (Mt 8:1-4). Na sequência, ao entrar em
Cafarnaum, Jesus cura o criado de um centurião, dizendo aos que o seguiam não
ter visto, nem mesmo em Israel, uma fé tão grande quanto à daquele centurião.
Os registros
históricos mostram-nos que o livro de Mateus teria sido escrito entre 64 e 70 d.C.
O primeiro milagre de
Jesus, na Bíblia, é reproduzido por Lucas em seu Evangelho: “A cura de um
endemoninhado em Cafarnaum”. Lucas, também, reproduz outros sinais constantes no
livro de Marcos.
A ocasião do
Evangelho de Lucas é citada, comumente, como “por volta de 63 d.C.”.
Sem detalharmos os
sinais que se seguiram à transformação da água em vinho, podemos concluir que
cada um dos evangelistas enunciou os seus “primeiros milagres” com intenções
distintas:
·
Marcos e também Lucas pretenderam fazer-nos
entender que Jesus, o Messias esperado, está entre nós disponibilizando o Seu
poder para que sejam derrotadas as forças demoníacas opressoras que nos afetam,
tanto física quanto mentalmente;
·
Mateus faz-nos perceber que o poder de Jesus é mais
utilizado para a resolução dos problemas sócio-emocionais evidenciados entre aqueles
mais carentes de recursos para sobreviver:
·
João, definitivamente, nos mostra que Jesus é o
enviado de Deus – nosso único e suficiente Salvador. Em seu Evangelho, por sete
vezes, Jesus reivindica esta Sua divindade. João, diferentemente dos outros
evangelistas tinha interesse em registrar Quem Ele era e não o que Ele podia fazer.
Observe meu amado
irmão, que Jesus, deliberadamente, profana o que era sagrado para os judeus,
que tinham aquelas talhas como utensílios de purificação, usados em seus
rituais. Jesus utilizou-as como objetos típicos de uma festa, fazendo com que
eles entendessem que para o Messias o sagrado só poderia ser estabelecido pelo
Deus criador de tudo e de todos.
Jesus joga por
terra a ideia de que certos objetos poderiam ser santificados, querendo
dizer-lhes que só Ele é santo e santo é tudo aquilo que somente Ele pode
santificar.
Jesus, quando utilizou
aqueles recipientes quis mostrar aos presentes que Ele não se submete ou não se
prende às coisas que o homem conceitua e define como sagradas para si, às
quais presta contas e obedece como se submisso
a elas. Para o Senhor isto soa como idolatria.
Preclaro
bispo, o seu questionamento deveria ser:
Mas
por que o evangelista João relata a transformação de água em vinho como o
primeiro milagre de Jesus?
Permita-me
responder: Há cinco razões consubstanciando o sinal relatado por João como o
primeiro sinal miraculoso do enviado de Deus:
1
– A crença judaica era de que quando o Messias estivesse entre eles, Deus iria festejar sua presença
com uma grande festa de casamento em que o povo de Israel seria a
noiva e o Criador seria o noivo, cuja fidelidade estaria determinando que, a
partir das bodas, não mais deixaria seu povo abandonado.
2
– João quis dizer que as bodas previstas por Deus para o final dos tempos já estava acontecendo
com a presença do Cristo ressurreto.
3
– O que estaria caracterizando essa festa, ainda segundo a crença judaica,
seria a abundância
de vinho (600 litros), usado corriqueiramente em eventos
matrimoniais.
4
– Aquele sinal miraculoso; um milagre daquela proporção levou os judeus
desacreditados da comunidade de João a crerem que, realmente Jesus era o filho de Deus.
5
– A transformação, em que foram utilizadas talhas de pedra
usadas em rituais de purificação, determinaram a total desvalorização daquelas práticas
que, agora, seriam substituidas pelo vinho sinalizador da ressurreição do nosso
Salvador.
Há
relatos bíblicos registrando esse casamento entre Deus e Israel. Entre outros,
podem ser citados os versículos 19 e 20 do Capítulo 2 do livro do profeta
Oseias:
19
– “Desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em
juízo, e em benignidade, e em misericórdia;
20
– “desposar-te-ei comigo em fidelidade; e conhecerá ao Senhor.”
Pode-se
ler em (Is 62: 5), sob o título “Jerusalém,
a noiva do Senhor”:
“Porque,
como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos te desposarão a ti; como o
noivo se alegra da noiva; assim de ti se alegrará o teu Deus”.
Embora
não desconheça que o nobre bispo ama o dinheiro e jamais se fartará dele; que, em amando a abundância
nunca se fartará da renda (segundo Salomão em Ec 5:10) que o posiciona como o
tele-evangelista mais rico entre os brasileiros que professam a falaciosa
teologia da prosperidade, confesso ainda ter a esperança de que o amado
bispo venha a se arrepender de todas as ações anti-bíblicas que vem praticando
à frente da gloriosa Igreja Universal do Reino de Deus.
Por
meu turno, para não ser taxado de servo impiedoso:
Que
Deus o perdoe – eu o amo, neste mesmo Jesus que o senhor desmereceu
vilipendiosamente.
Vou
orar muito pela sua vida.
Respeitosamente,
Alberto
Couto Filho